Gasolina e10: impacto, consequências, riscos

Gasolina e10: impacto, consequências, riscos

As gasolinas E5 e E10 já se encontram no mercado há alguns anos. A sua introdução foi impulsionada pelo Estado português e pela UE com o objetivo de tornar o setor rodoviário mais “verde”. Continue a ler para saber o que são afinal os combustíveis E5 e E10, qual a sua compatibilidade com veículos e quais as suas vantagens e desvantagens.

Gasolina E5 vs E10

As gasolinas E5 e E10 são combustíveis para motores de combustão interna. Trata-se de misturas de gasolina, portanto, de óleos minerais voláteis, com compostos oxigenados de origem renovável. A diferença entre os combustíveis E5 e E10 é a sua composição e, consequentemente, a sua especificação técnica. 

Gasolina E5 vs E10

O E5 tem 95 octanas e apresenta uma coloração violeta. É composto por uma mistura de gasolina com metanol ou com etanol. O metanol e o etanol podem perfazer um máximo de 3 % e 5 % da mistura respetivamente. 

O E10, por seu lado, tem 98 octanas e uma coloração azul. Pode integrar outros substitutos além do metanol e do bioetanol, nomeadamente, álcoois de vários tipos e éteres. No caso da gasolina E10, o metanol pode perfazer até 3 % da mistura, o bioetanol até 10%, os álcoois até 15 % e os éteres até 22 %. 

O bioetanol da mistura é produzido a partir de biomassa ou de frações biodegradáveis de resíduos e, como tal, de origem renovável. À parte se diga que em 2019 o bioetanol para as misturas de combustíveis foi importado na sua totalidade.

Base legal em Portugal

Os combustíveis E5 e E10 foram introduzidos no mercado interno em consequência da estratégia da comunidade europeia para promover a utilização de energia proveniente de fontes renováveis e para alcançar uma redução da poluição atmosférica, posto que as emissões devidas a combustíveis de base petrolífera assumem um valor importante das emissões totais. A utilização acrescida de biocombustíveis como substituto de combustíveis fósseis têm a capacidade de mitigar a poluição atmosférica.

Em Portugal estão estabelecidas normas referentes às condições para comercialização de misturas de biocombustíveis com gasolina e gasóleo em percentagens superiores a 5% e às suas especificações técnicas no Decreto-Lei n.º 89/2008, de 30 de maio. Este diploma foi alterado pelos Decretos-Lei n.º 142/2010, de 31 de dezembro e n.º 214-E/2015, de 30 de setembro. O cumprimento das metas do uso de biocombustíveis em misturas para consumo rodoviário é definida pelo Decreto-Lei n.º 117/2010 e verificado pela ENSE.

A rotulagem de combustíveis foi alterada no dia 12 de Outubro de 2018 em Portugal e noutros estados membros da UE. A harmonização procura simplificar o abastecimento de combustível por parte de consumidores, prevenindo erros na escolha. São usados três símbolos distintos, nomeadamente um círculo verde para gasolina, um quadrado encarnado para gasóleos e um losango azul para gás. Os combustíveis E5 e E10 são identificados por meio de um rótulo.

Compatibilidade com o motor e outros componentes

Compatibilidade com o motor e outros componentes

A esmagadora maioria dos modelos automóveis e motociclos modernos é compatível com as gasolinas E5 e E10. Contudo, no caso de carros mais antigos, por exemplo, de valor histórico, pode haver uma incompatibilidade entre os compostos oxigenados do combustível e determinados componentes do sistema de alimentação. 

De facto, álcoois têm propriedades que deterioraram determinados componentes plásticos, por exemplo, elastómeros de tubos e de vedantes do sistema de alimentação. Ainda assim, a maioria dos componentes usados neste sistema desde o início da década de 90 é resistente a estes compostos oxigenados.

Além disso, discute-se que estes compostos, em particular quando se encontram sob pressão e temperatura alta, possam corroer componentes de alumínio do sistema de alimentação. Consoante o modelo do veículo, estão presentes componentes de alumínio, por exemplo, na bomba ou no sistema de pulverização de combustível. Ainda assim, mesmo com vários testes de longa duração, não se conseguiu averiguar um desgaste relativamente acentuado de componentes automóveis devido à utilização do E5 e E10.

Em caso de dúvida, recomenda-se que consulte este documento da Associação dos Construtores Europeus de Automóveis, no qual se encontra uma lista de modelos automóveis e a sua compatibilidade com estes combustíveis. Além disso, pode sempre consultar diretamente o fabricante do seu veículo para averiguar a compatibilidade.

Consumo 

Em comparação com a gasolina, o etanol apresenta propriedades de combustão melhores. A adição desta substância à gasolina aumenta a octanagem da mistura. Contudo, o valor energético da gasolina é comparativamente superior. Tendo em conta estes aspetos, o uso de E10 pode, em comparação com o uso de gasolina normal, originar um consumo ligeiramente mais elevado (na ordem de 1 % a 2 %).

Ainda assim, é difícil aplicar este valor a todos os modelos automóveis igualmente, posto que os motores e sistemas de alimentação diferem. Além disso, o consumo depende em grande medida de mais fatores, como o comportamento de condução, a situação de trânsito, a topografia etc. 

Emissão de CO2, de óxidos de azoto e de partículas finas

Um dos principais motivos da introdução dos combustíveis E5 e E10 no mercado é a redução das emissões no setor rodoviário. O E5 e o E10 têm o potencial para tornar o uso de gasolina mais neutro em termos do clima e reduzir as emissões locais de óxidos de azoto e de partículas finas.

Emissão de CO2, de óxidos de azoto e de partículas finas

De facto, vários testes demonstram que as emissões locais de CO2 devidas à combustão são reduzidas ligeiramente aquando do uso de combustíveis E5 e E10 em comparação com o uso de gasolina normal. Já em termos de balanço global, o uso destes substitutos renováveis tem o potencial para reduzir comparativamente a emissão de gases com efeito de estufa na ordem dos 60 % a 75 %. 

Os substitutos utilizados no E5 e E10 são de origem renovável. Como tal, o equivalente ao CO2 emitido localmente devido à combustão do substituto já foi previamente extraído da atmosfera. Em termos globais trata-se, portanto, de um balanço de CO2 quase neutro. Além do aumento da neutralidade climática, a substituição da gasolina por combustíveis de origem renovável tem outras vantagens para as emissões locais. 

Testes da associação alemã BDBe demonstram uma redução das emissões locais de óxidos de azoto e de partículas finas com o aumento da taxa de etanol na gasolina. Em comparação, o uso de combustível E10 reduz as emissões de óxidos de azoto em 25 % para com as do E5. A emissão de partículas finas é reduzida em 70 % aquando do uso de E10 em comparação com E5.

Outros aspetos ambientais e económicos associados

Apesar de tudo, as vantagens para o meio ambiente devidas à substituição parcial da gasolina por biocombustíveis apenas se mantêm, se for garantida a sustentabilidade da sua produção.

  • i A produção agrícola necessária para produzir os substitutos renováveis da gasolina é tipicamente feita com máquinas a gasóleo. Se o gasóleo empregado for exclusivamente de fontes fósseis, isto piora o balanço de CO2 do substituto.
  • i A produção agrícola de biocombustíveis necessita de terreno. Se um aumento da produção provocar um aumento da desflorestação ou uma destruição de habitats, o impacto positivo do uso de biocombustível é reduzido.
  • i A produção agrícola de biocombustíveis tem potencial para concorrer com a produção de alimentos. As produções recorrem a fatores de produção semelhantes. A escassez de fatores de produção ou de colheitas alimentares pode provocar um aumento de preços de alimentos.
  • i A produção agrícola de biocombustíveis tem o potencial para gerar emprego e criar cadeias de valor em zonas rurais.
  • i Determinados subprodutos da produção de biocombustíveis podem ser usados na alimentação animal. Estes subprodutos têm o potencial para substituir parte de rações animais, permitindo uma diminuição de importações de outras culturas usadas em rações como, por exemplo, a soja.
  • i O uso de biocombustíveis permite diminuir a dependência de combustíveis fósseis.
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